Eu queria escrever como antes. Há um enorme silêncio aqui dentro. Na verdade, é um silêncio que transborda em meio a tantas palavras que desejam tomar forma, virarem realidade, “pularem” pra fora da minha cabeça e do meu coração em forma de texto, poesia, música, frases ou, simplesmente, palavras avulsas. Sendo honesta comigo mesma, há um tempo que esse silêncio ensurdecedor mora em mim.
É que tem me faltado coragem para abrir as portas simbólicas da minha cabeça e do meu coração onde as palavras estão guardadas. Sim, são duas portas, porque nem sempre o que queremos dizer vem só da cabeça, do racional, do lado que muitas vezes achamos mais “confiável”. Mas a porta do coração é mais sincera, não tem tanto freio para as palavras que queremos dizer, e por isso é tão importante que esta passagem também não esteja emperrada.
Arnaldo Antunes, um dos meus intérpretes prediletos.
Por essas portas é possível ouvir muito barulho de palavras se debatendo atrás delas. Um som que alegria e dá asas à imaginação. Há tantas palavras entulhadas aqui dentro de mim que preciso abrir cuidadosamente a porta para que elas ganhem o mundo. Se eu abrir de vez, é provável que elas se atropelem na saída, emperrando a passagem. Aí, no máximo, conseguem sair uma ou duas palavras soltas, as demais ficam entulhadas. É preciso criar um fluxo, como tudo na vida, para que todas as palavras possam sair, e nenhuma se perca no caminho ou fique para trás.
Palavras paradas paralisam. Parece até um trava línguas, mas é a mais pura verdade. É necessário dinâmica, movimento, ação para que as palavras, ao saírem portas afora, ganhem vida e mudem a nossa narrativa – e quem sabe a de outras pessoas. Agora, tento equilibrar as palavras que ficam e as palavras que saem, dando vazão, aos poucos, para sentimentos, frases completas, parágrafos inteiros. As palavras transformam os mundos: o de dentro de nós, o de fora e os que ainda não conhecemos.
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