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Nômade

29 de janeiro de 2023
Nômade

Tem dias que a vontade de vender as coisas, largar o emprego fixo, chutar o balde fala mais alto. Parece ser muito difícil, dar esse pontapé rumo ao desconhecido, especialmente quando pensamos nas relações que temos, na vida redonda e que também nos conforta. Já pensei em ser nômade muito antes dessa palavra e dessa prática estar de volta no vocabulário contemporâneo (especialmente no mundo digital). Eu acho que todos nós, de uma forma ou outra, temos o gene do nomadismo dentro de nós. Ou seria um gene da inquietude?

Essa inquietude nos leva a buscar de diversas formas acalmar nossos nômades interiores. Não acho que ser inquieta é um problema, pelo contrário, isso nos dá uma visão diferenciada do mundo. Como se a gente tivesse uma interrogação dentro de nós a todo momento, e, por isso, tentamos achar maneiras de responder a essas perguntas. A vontade de jogar tudo pro alto vem, por um lado, da ideia de que quando menos apego você tiver mais pode ser possível enxergar as respostas para essas perguntas. Por outro lado, chutar o balde tem um pouco de rebeldia com o que está posto, misturado com o cansaço da sociedade pós moderna. Muita informação, muitas teorias, muitas respostas milagrosas e, também, muita saturação e hipocrisia.

Eu tenho, sim, vontade de ser nômade, viajar o mundo e ir me descobrindo a cada passo. Mas também sei que isso trará mais indagações. Porque mudar de espaço físico nos muda também, mas não significa, necessariamente, que deixamos nossos monstros interiores para trás. O que vai e o que fica depende de nós, e não do espaço-tempo. Eu mesma queria ficar um tempo no meio do mato, contando as horas pelo sol e a lua, sem me preocupar com o dia posterior. Conversando com meu nômade interno inquieto e dizendo pra ele que, não importa o lugar, fixo ou não, a vida sempre nos inquieta ao mesmo tempo que nos exige ousadia.

Kalyne Menezes

Sou fundadora, diretora e coordenadora geral do Antes do Ponto Final. Jornalista, escritora e pesquisadora. Gosto de escrever, falo no podcast e apareço no vídeo para contar histórias de pessoas e lugares, de diferentes maneiras. Também gosto de ir atrás das relações entre Comunicação, Informação, Cultura, Cidadania e pessoas com foco no que é social e coletivo.

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