Todos os dias quando vou para o trabalho encontro o homem do saco no meu ônibus. Ele tem estatura mediana, barba e cabelo branco e sempre carrega um saco cor crua ou escuro cheio de não sei o quê. O saco vai nas costas, vez por outra ele carrega como se fosse Papai Noel levando presentes.
Aí todo mundo do ônibus olha para o homem do saco como alguém muito estranho, sempre calado, misterioso. O homem do saco é discriminado. Não é sujo, é limpinho e muito simples. Mas as pessoas o veem com medo, alguém que não é confiável, alguém excluído por elas mesmas – que também são excluídas por diversos motivos que não os mesmos do homem do saco.
Mas, hoje, o homem do saco deixou cair uma panela dentro do ônibus e fez o maior barulho. Todo mundo olhou. E ele, esquivando-se, colocou a panela com jeito próximo a ele, no chão. Era uma panela grande de metal, daquelas que as avós usam para fazer doce e arroz para muita gente.
E quando ele desceu do ônibus, vi que o homem do saco, na verdade, é um vendedor ambulante, que todos os dias vai ganhar a vida em uma rua da capital. O homem do saco carrega, como todos nós, as armas para matar o seu leão de cada dia. E não é fácil.