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O homem do saco

3 de agosto de 2023
O homem do saco

Todos os dias quando vou para o trabalho encontro o homem do saco no meu ônibus. Ele tem estatura mediana, barba e cabelo branco e sempre carrega um saco cor crua ou escuro cheio de não sei o quê. O saco vai nas costas, vez por outra ele carrega como se fosse Papai Noel levando presentes.

Aí todo mundo do ônibus olha para o homem do saco como alguém muito estranho, sempre calado, misterioso. O homem do saco é discriminado. Não é sujo, é limpinho e muito simples. Mas as pessoas o veem com medo, alguém que não é confiável, alguém excluído por elas mesmas – que também são excluídas por diversos motivos que não os mesmos do homem do saco.

Mas, hoje, o homem do saco deixou cair uma panela dentro do ônibus e fez o maior barulho. Todo mundo olhou. E ele, esquivando-se, colocou a panela com jeito próximo a ele, no chão. Era uma panela grande de metal, daquelas que as avós usam para fazer doce e arroz para muita gente.

E quando ele desceu do ônibus, vi que o homem do saco, na verdade, é um vendedor ambulante, que todos os dias vai ganhar a vida em uma rua da capital. O homem do saco carrega, como todos nós, as armas para matar o seu leão de cada dia. E não é fácil.

 

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Kalyne Menezes

Sou fundadora, diretora e coordenadora geral do Antes do Ponto Final. Jornalista, escritora e pesquisadora. Gosto de escrever, falo no podcast e apareço no vídeo para contar histórias de pessoas e lugares, de diferentes maneiras. Também gosto de ir atrás das relações entre Comunicação, Informação, Cultura, Cidadania e pessoas com foco no que é social e coletivo.

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