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Por aí. /Ponto de Vista.

O fabuloso mundo de Pitágoras Lopes

Artista leva o público por um passeio pelo mundo que criou para dar vida à sua obra. Exposição vai até 16 de fevereiro no Centro Cultural Octo Marques

11 de janeiro de 2023
O fabuloso mundo de Pitágoras Lopes

Foto de Fernando Matos.

Ainda lembro daquela tarde na qual me deparei com lambes em paredes e postes na Alameda Botafogo, que faziam troça com a falta de educação de pais e mães de cachorros que não recolhem as merdas de seus pets das vias públicas. Era 2012, mas “Procura-se cão cagão de Madame Porca. Recompensa-se”, não me sai da cabeça. Apesar de não estarem assinados, os traços não deixam dúvidas: era uma série de Pitágoras Lopes, um dos expoentes das artes visuais de Goiás.

A ironia e a acidez das mensagens daqueles desenhos, aliados à rotina de uma cidade que não para, são a síntese de uma cabeça inquieta e de uma produção pungente que se desdobrou na exposição Out of Context, que fica em cartaz até 16 de fevereiro, no Centro Cultural Octo Marques, Goiânia. São 100 peças, em sua maioria inéditas, nas quais o artista desfila por diversas técnicas o seu olhar sobre questão que são demasiadamente humanas.

Os bichos, os robôs, as máquinas e a cartela de cores vibrantes, que nos fazem refletir sobre temas pesados, como solidão e exploração, mas também sobre esperança e resistência, são signos muito fortes e próprios de sua obra, e formam conjunto bastante coeso, no qual ele trafega sobre diversos temas. Um verdadeiro mundo no qual são impressas as suas inquietações.

É como se ele flanasse por um grande centro urbano. Em última análise, Pitágoras criou um universo para a existência de sua criação artística tão poderoso, que quando colocadas lado a lado as obras formam uma orbi em seus aspectos públicos e privados, algo que é muito característico de sua obra. Talvez, por isso, os seres orgânicos, inorgânicos e híbridos, que habitam esse mundo, são formados nas fronteiras da própria humanidade, e ocupam esse lugar de desconforto que é próprio daqueles que não alcançaram o status de humano, o abraçando e aceitando de bom grado.

Chamo atenção para as televisões que aparecem com força na mostra. Elas são ao mesmo tempo símbolo de uma sociedade cada vez mais individualista e ao mesmo tempo teleguiada por gurus que pululam aos montes em plataformas e streamings. E, ao mesmo tempo, elas dão essa dimensão do íntimos desse mundo e de seus habitantes. Tudo se conecta e tudo se encontra nesse plano.

Algumas telas também chamam atenção para o concreto, a luz e as cores que se apropriam desse lugar ao anoitecer, mas que escodem em seus interiores esgotos que guardam segredos e despejam dejetos sobre um sem número de seres que fazem dele sua morada. Poderia ser uma crítica sobre a devastação do meio ambiente, mas no fundo trata sobre a própria degradação do humano e suas relações, em seus aspectos mais provincianos, como não recolher as fezes de seus cachorros.

É uma exposição que vale a pena visitar, não apenas pela grandeza do artista, mas pela qualidade da produção e também pela pluralidade desta. Outro ponto a ser destacado é o texto da exposição, de autoria do professor Paulo Duarte, que com muito esmero tenta desvendar os caminhos de uma mente tão inquieta quanto é a vida, a vida nas cidades e nos mundos particulares que cada um cria para si.

 

Serviço:
Exposição “Out of Context”, do artista plástico Pitágoras Lopes
Visitação até 16/02/2023, de segunda a sexta-feira, das 8 às 17h
Local: Centro Cultural Octo Marques – Edifício Parthenon Center, Rua 4 (entrada Rua 7), nº 515, Centro.
Entrada gratuita
Fernando Matos

Jornalista, assessor de imprensa e comunicação. Apaixonado por pornografia, fotografia e artes em geral. Ah! Também tenho mestrado em mídia e cultura, mas isso eu sempre esqueço.

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