Uma rua de São Paulo vazia (foto: YouTube).
Ouço o barulho do ônibus passando próximo à minha casa e da janela vejo algo quase inédito: o transporte coletivo está praticamente vazio. Decidi sair com meu cachorro para dar uma volta, vi dois carros e três motos circulando na região no horário de “pico”. Meu cachorro encontrou outro para interagir, mesmo assim foi um cumprimento bem rápido. Duas pessoas caminham na rua. O vírus que tem assustado todo mundo nos últimos tempos deixou a cidade em silêncio.
Não tem mais torcida, tão pouco futebol. Acabou o samba ao vivo, o happy hour, o churrasco do fim de semana, o passeio no parque. Por outro lado, a atenção tem se voltado para dentro, ou ao menos é o que se espera. Esses dias comentava com um amigo sobre uma espécie de “retiro espiritual” em que você fica dez dias sem falar. Isso mesmo, dez dias meditando, refletindo, sem trocar uma palavra com ninguém. Em caso de extrema necessidade há uma pessoa indicada para trocar algumas palavras com você. E eu tenho vontade de participar dessa experiência – não sei se vou mudar de ideia depois da quarentena do coronavírus.
O ponto é que, de um jeito ou de outro, somos obrigados a conviver com nós mesmos. E, acredite, muita gente não faz isso. Tem pessoas que não passam muito tempo consigo mesmas, a não ser no banho. A casa está sempre cheia, mas não conseguem ficar sozinhas. Não sei porque, nem julgo tais posturas. Entretanto, na minha opinião, nós somos nossa melhor e pior companhia. É ótimo estar em paz com a gente mesmo, como é horrível quando vemos no espelho algo que gostaríamos de melhorar naquela pessoa. Nossa relação com a gente mesmo é de amor e ódio, e eu diria que mais amor do que ódio. Porque só o amor permite reconhecer quem somos, como somos e de que maneira podemos nos tornar humanos melhores. Acho que o silêncio da cidade vai fazer muito barulho dentro de todos nós.
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