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Ser nuvem

17 de fevereiro de 2024
Ser nuvem

Por Jcomp/Freepik

Um dos meus passatempos preferidos na infância era olhar o céu. Eu gostava de ver as nuvens e imaginar desenhos, formas irregulares que de alguma maneira faziam sentido pra mim. Eu sempre soube que as nuvens não eram de algodão, mas gostava de imaginar que poderíamos pular nelas, como nos desenhos infantis.

Depois cresci, e continuei olhando o céu. Descobri que as nuvens eram feitas de água, e que poderíamos cruzar elas no céu, quando andávamos de avião. Uma nuvem ocupava um espaço e, ao mesmo tempo, poderia ser atravessada, e continuar se transformando em formas criativas.

Eu quis ser nuvem. Ser atravessada por águas e emoções, formar tempestades, e me transformar diariamente. Ser uma nuvem que parece algodão, balão, tapete. Um meio para um fim. Ser leve e, ao mesmo tempo, cheia de elementos importantes, com um papel fundamental no planeta. Eu quis ser uma nuvem bonita, que lá do céu conseguisse ver uma boa parte da terra, ao mesmo tempo ser observada por outras pessoas.

Eu quis ser uma nuvem criativa, que inspira imaginação e brincadeiras. Que se separa de si mesma, e também é capaz de se unir a outras nuvens formando novos desenhos. Eu quis ser uma nuvem que não deixa o céu 100% descoberto, e contribui para a distribuição da Luz solar na Terra. Eu quis ser nuvem, pra ser uma ponte entre a terra e o espaço sideral.

Aí cresci mais um pouco, e parei de olhar as nuvens. Esqueci que queria ser nuvem, e parei de desenhá-las de azul e branco no meu bloco de notas. Me apeguei às explicações científicas e racionais do que era ser nuvem, e achei que jamais poderia ser uma. Joguei os rabiscos num armário qualquer.

Um dia, limpando o armário, me deparei com um desenho. Era uma nuvem estranha, desbotada e sem vida. O tempo apagou as cores do papel. Aquela nuvem tinha virado chuva e evaporado. Mas porque algumas nuvens evaporam, é que outras se formam rapidamente, e começam a jornada de novo.

Por isso, decidi: comprei um novo caderno de desenho, e todos os dias eu vejo, imagino, desenho e pinto novas nuvens.

Kalyne Menezes

Sou fundadora, diretora e coordenadora geral do Antes do Ponto Final. Jornalista, escritora e pesquisadora. Gosto de escrever, falo no podcast e apareço no vídeo para contar histórias de pessoas e lugares, de diferentes maneiras. Também gosto de ir atrás das relações entre Comunicação, Informação, Cultura, Cidadania e pessoas com foco no que é social e coletivo.

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