Foto de Nawal Escape (Pixabay).
“Compro ouro, platina e brilhante”, estava escrito no colete do vendedor, por cima da camiseta branca. Acho que comprador de ouro é uma das atividades mais comuns de se ver no centro da cidade, várias pessoas de colete amarelo, geralmente com letras vermelhas vibrantes.
Nunca levei ouro para vender, e só esses dias reparei bem nessas pessoas que são, em sua maioria, homens mais velhos, de cabelos cinza ou brancos. É que eu vi uma mulher negra com um desses coletes, ela comprava ouro também. Acho que foi a primeira mulher que reparei, estava no banheiro lavando as mãos e arrumando os cabelos curtos e alisados.
Negra, devia ter 1,60 de altura, por volta dos 50 anos. Ela não me disse uma palavra, mas pela primeira vez eu tive vontade de vender alguma joia em ouro, mesmo que eu não tivesse nada em mãos, no momento, para este fim. E me perguntei como seria o trabalho dela numa profissão que, à minha primeira impressão, é difícil, marginalizada e absolutamente masculina.
E me perguntei, ainda, se essa dominância de homens tem alguma ligação distante com a própria pedra em si, recordando-se da história do garimpo, lugar de disputas e mortes que contei aqui em outro texto. Naquele dia, o que saltava aos meus olhos não era o colete amarelo, nem as letras vermelhas, mas a pele brilhante daquela mulher que, ao seu jeito, continuava a romper os padrões da sociedade.