O último dia do ano não é o mais esperado, mas, com o tempo, acaba sendo. E digo isso porque nunca conheci alguém que vivesse um ano tão bom que quisesse que ele passasse devagar. Algumas pessoas só se lembram disso depois, quando avaliam seu passado com o olhar do presente. “Aquele ano é que foi maravilhoso!”. E o último dia do ano tem aquele gosto de um bom adeus, daqueles que a gente só diz uma vez e segue em frente. Vida que segue e que seja melhor, obrigada.
Mas 2022, particularmente, foi um ano em que sinto que vivi dez anos em um. Teve sim acontecimentos maravilhosos, mas outro igualmente tristes. Acho que a perda de quem amamos pesa consideravelmente, e que as vezes é difícil equilibrar a balança da vida, mesmo com nossas conquistas. Há dias em que não me lembro de 2022. Penso que a pandemia de 2020 foi deixando uma interferência gigantesca na minha noção de tempo e espaço. E olha que eu nem tive Covid-19.
E o último dia do ano, que passou a ser tão esperado, chegou com a carga que damos a ele, de que venha um próspero e feliz ano novo. É uma carga aparentemente feliz, mas pesada. Queremos apagar as mazelas de passado com uma borracha, reescrever algumas histórias e contar só coisas boa. Só que a vida já provou pra você mesmo que por trás daquela foto maravilhosa só você sabe o que tem de verdade, e que as vezes não assume pra si mesmo. Que não se olhar no espelho da alma só adia as respostas mais óbvias que você já tem.
E quando o relógio marcar 00:00, e os fogos soltarem no céu, a gente vai zerar um relógio anual que a gente mesmo inventou pra cronometrar a vida. Por isso, nesse último dia do ano, que acabou se tornando o mais esperado por todo mundo, eu pretendo olhar bem o céu, ver as luzes se misturarem com as estrelas, e pedir para o universo que eu possa apreciar com leveza, maturidade e sabedoria cada novo amanhecer, faça sol ou chuva. E que, do lado de cá, em frente ao espelho, eu continuo sendo eu mesma, com uma vida de verdade.