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O poder do sol

A energia contagiante, aquele calor sutil, o dia reluzente.

30 de setembro de 2021
O poder do sol

Foto de Brett Sayles/Pexels.

Quem me conhece sabe que eu amo o sol. A energia contagiante, aquele calor sutil, o dia reluzente. Eu sempre achei que um dia com sol é mais alegre, embora a maturidade tenha me permitido encarar os dias frios e chuvosos com um olhar mais amoroso. E, mesmo amando os dias de sol, tenho sentido, ano após ano, como o calor é mais intenso. Como baiana que cresceu rodeada de sol, o astro-rei tem mostrado seu poder e a que veio, seja na minha terra natal, seja no centro-oeste, onde moro, e em diversas partes do Brasil e do mundo.

Não classificaria isso como bom ou ruim, penso que nem tudo na vida é tão dual assim, Mas, sem dúvida, esse calor mais intenso é um reflexo das nossas próprias ações que têm, literalmente, tornado o mundo mais quente. Às vezes eu refaço para mim mesma a pergunta: Qual o mundo que eu desejo ter no futuro? Para mim, mas, principalmente, para as próximas gerações? A gente se esquece de que, muito do que fazemos hoje, não tem um retorno imediato. E porque digo isso? Porque pensamos muito em nós mesmos, a própria concepção de uma sociedade cada vez mais consumista, que descarta tanto objetos quanto relações, coloca o individualismo em um pedestal quando, na verdade, ninguém  anda ou faz nada só. É tudo interligado, e talvez esse seja o “x” de qualquer questão.

E reclamamos, de quase tudo. Quanto ao clima/tempo, reclamamos se há sol demais, se a chuva veio mais do que o esperado, se está seco, se está muito úmido, se as plantas cresceram demais, ou se as folhas caíram todas de uma vez… E esquecemos que a natureza é tão perfeita que busca o equilíbrio. O sol, nada mais é, do que uma das faces desse equilíbrio, a luz dele é essencial para a vida na Terra, sendo nossa fonte primária de energia. É por meio do sol que a natureza, o que inclui nós seres humanos, realiza seus processos. E sem processo, não há resultado, não há equilíbrio.

O que nós fazemos hoje chegará a nós mesmos, mas apenas em parte. É nas gerações futuras que nossas ações miram, porque o tempo do planeta Terra é diferente do nosso tempo de humanos. Basta observar a natureza – sem a interferência humana, óbvio – e podemos perceber que cada ciclo tem suas peculiaridades, desafios, descobertas, equilíbrios. Agora mesmo estamos na minha estação preferida, a primavera. Apesar do sol escaldante, o rio está gelado, para contrabalancear. 

Esses dias eu vi uma dessas séries futuristas, onde a Terra é destruída por algum evento e a gente volta ao pó, vivendo do básico, e se redescobrindo enquanto humanidade.. E me ocorreu que, mesmo que isso possa se tornar realidade, nossa visão não será como aqueles que vieram antes de nós. Porque nós já acumulamos outras experiências, sobretudo de exploração de recursos terrenos, e, de alguma maneira, fomos forçados a dar um passo atrás. E não porque perdemos algo, e sim porque a Terra nos proporcionou repensar esse lugar que ocupamos, não apenas como extinto de sobrevivência, mas sobretudo de manutenção da vida.

Hoje quando olho pro sol escaldante, minhas vistas doem. Mas é uma dor boa, uma dor de vida, uma dor de pensar que mais um dia nasceu, com mais oportunidades de repensar o meu espaço no mundo. E que não é um espaço só meu, tem outras pessoas ao meu redor, direta e indiretamente. É um espaço de muitos, visíveis e invisíveis. Nele estão os passarinhos que cantam na minha janela, e os que ficam nos fios de rede elétrica. Mas, ainda, estão os gigantes do capitalismo que exploram pessoas, terras, negócios exclusivamente pensando em si mesmos. O sol nasce para todos, e, por isso mesmo, o poder dele é para todos. A luta é coletiva por um mundo mais coletivo.

Kalyne Menezes

Sou fundadora, diretora e coordenadora geral do Antes do Ponto Final. Jornalista, escritora e pesquisadora. Gosto de escrever, falo no podcast e apareço no vídeo para contar histórias de pessoas e lugares, de diferentes maneiras. Também gosto de ir atrás das relações entre Comunicação, Informação, Cultura, Cidadania e pessoas com foco no que é social e coletivo.

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