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Goiânia, meu amor

Hoje eu digo com sinceridade que gosto de Goiânia, uma cidade que - apesar de problemas que qualquer cidade pode ter - me acolheu com o passar dos anos

24 de abril de 2020
Goiânia, meu amor

Meninos brincando no trampolim do Lago das Rosas, na década de 1950 (Foto Hélio de Oliveira -acervo da divisão de Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura/GO)

Quem acompanha os textos já sabe que venho de outra cidade, mas para quem está começando por aqui agora aviso: sou baiana, do interior, nordestina da gema, mais precisamente do Oeste Baiano de uma cidade chamada Barreiras. Muito conhecida pelo Rio de Ondas, festas famosas e pela expansão agropecuária na região. E em fevereiro de 2020 fez exatos 15 anos que moro em Goiânia; lembro da minha mudança com três malas grandes, vindo pra estudar e morar com meu irmão.

Hoje eu digo com sinceridade que gosto de Goiânia, uma cidade que – apesar de problemas que qualquer cidade pode ter – me acolheu com o passar dos anos.  Apesar disso, confesso que nem sempre gostei daqui, para quem vem de um estado com uma cultura diferente e conhecido pelo “povo caloroso”, a tal hospitalidade do goianiense passa longe de ser real. Já ouvi “piadas” sobre baianos e nordestinos, já ouvi muitos preconceitos disfarçados de elogios. Sofri preconceitos pelo meu modo de falar e de vestir, por vir de onde eu venho, e ainda hoje percebo isso em uma ou outra situação, mas a gente também amadurece o jeito de lidar com isso. É alguém que se incomoda porque você estuda e se capacita, ou que quando você muda de ocupação pergunta se você vai voltar para a Bahia (como se dissesse “aqui não é seu lugar”). E eu que nunca tolerei piadinhas com nordestinos dou uma risadinha de canto, meio cínica, dessas que a vida ensina para a gente que é melhor do que perder tempo com gente pequena. E, então, me lembro de tantas pessoas que fizeram e fazem essa cidade valer a pena pra mim.

Fiz bons amigos, estudei e continuo estudando, trabalho, e continuo aprendendo sobre morar na cidade grande com saudades de um lugar, um tempo, uma identidade, uma cultura. Eu gosto de pequi e pamonha, e ainda caio na risada quando alguém fala caja-manga ao invés de cajarana. Gosto do jeito goiano de puxar o erre, de amar Goiânia e seus absurdos como esse trânsito louco e os festivais de música sertaneja lotados de tanta gente, fico rindo sozinha do jeito engraçado que os goianos paqueram – às vezes acho um charme, outras nem tanto. Acredito que ainda há muito a melhorar, especialmente no que diz respeito a fazer uma cidade mais preocupada com as pessoas que moram nela, uma cidade sustentável. Mas creio que a cidade é jovem e tem muito potencial para isso. Desejo, do fundo do meu coração, que Goiânia seja cada vez melhor e que acolha bem a quem chega aqui e procura um lar. E desejo também que preconceitos e pensamentos pequenos cada vez mais tenham menos espaço por aqui. Espero sempre visitar a cidade, pois não sei se irei morar aqui sempre. E sei que Goiânia, meu amor, sempre terá um espaço no meu coração.

Kalyne Menezes

Sou fundadora, diretora e coordenadora geral do Antes do Ponto Final. Jornalista, escritora e pesquisadora. Gosto de escrever, falo no podcast e apareço no vídeo para contar histórias de pessoas e lugares, de diferentes maneiras. Também gosto de ir atrás das relações entre Comunicação, Informação, Cultura, Cidadania e pessoas com foco no que é social e coletivo.

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