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Fugindo de casa

A primeira vez que eu fugi de casa tinha uns 7 ou 8 anos. Eu briguei com a minha mãe por um motivo qualquer e decidi que não ia mais morar com ela

24 de agosto de 2020
Fugindo de casa

Foto de Rolf Dobberstein (Pixabay )

A primeira vez que eu fugi de casa tinha uns 7 ou 8 anos. Eu briguei com a minha mãe por um motivo qualquer e decidi que não ia mais morar com ela. Minha mãe fez o que qualquer mãe faria: me apoiou completamente. Primeiro organizei o que ia levar, separei minha boneca predileta, um pacote de bolacha, uma goiaba, minha roupa preferida e um pijama de dormir. Coloquei num embrulho que improvisei e carreguei nas costas.

Saí de de casa com esse embrulho e meu guarda-chuva amarelo de bolinhas coloridas. Minha mãe ria por dentro, mas por fora tentava se manter séria. Ela abriu o portão e disse: “filha, se você quiser voltar tudo bem, mamãe estará aqui”, e ainda acenou sorridente para mim. Andei uma quadra e, claro, parei na casa da minha avó. Poucos minutos depois vejo de relance minha avó no telefone, falando baixinho que eu estava lá.

Minha mãe não só me conhecia – como ainda conhece – muito bem, mas desempenhou um excelente papel de incentivar meus sonhos e conquistas, mesmo que isso tenha uma dor de saudade às vezes. Anos mais tarde eu “fugi” de casa de novo, mudei de cidade para estudar e fazer jornalismo. E aí percebo que na vida a gente vive fugindo de casa para realizar nossos sonhos, saímos do ninho e voltamos apenas de passagem para alçar voos mais altos. Nessas fugas a gente encontra cada vez mais o nosso eu, nossa personalidade, nossos sonhos e missões. A fuga, aqui, não é um ato covarde, é apenas o começo de um novo capítulo da nossa história.

Kalyne Menezes

Sou fundadora, diretora e coordenadora geral do Antes do Ponto Final. Jornalista, escritora e pesquisadora. Gosto de escrever, falo no podcast e apareço no vídeo para contar histórias de pessoas e lugares, de diferentes maneiras. Também gosto de ir atrás das relações entre Comunicação, Informação, Cultura, Cidadania e pessoas com foco no que é social e coletivo.

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