Foto: Devanese/Pixabay
Passei a gilete na perna, ficou lisinha de novo em menos de três minutos. Quando eu era mais nova depilava com cera quente ou fria, depois passei por aqueles procedimentos estéticos de luz pulsada; hoje sei e sinto que eu não sou obrigada a estragar a minha pele com isso e sou feliz assim. Eu sempre me preocupei com minha pele sensível e também sou do tipo que não gosto de ter pelos, mas como uma mulher adulta jovem de 32 anos eu não ligo se eu não raspar minhas pernas e as pessoas verem isso quando eu uso vestido – e nem vou deixar de usar qualquer roupa porque estou com pelos. Não acho feio, nem bonito, só uma preocupação desnecessária algumas vezes.
Eu ainda estou me acostumando com as mulheres que não depilam a axila , mais porque minha estranheza, mesmo que mínima, ainda é reflexo de uma sociedade e cultura da imposição da beleza, e tenho aprendido cada dia mais a me libertar desses e de outros padrões sociais impostos. Nossos corpos, nossas regras, por mais que a sociedade ainda continue dizendo que não. E saio em defesa dos pelos que parecem ser tão “odiados” hoje. Esses dias vi uns calendários de bolso, moda nos anos 1980, que estampava mulheres nuas. E, juro, elas tinham pelos na vagina. Eu fiquei imaginando como algumas pessoas reagiriam vendo eles, muitas sem dúvida com cara de nojo. Para essas só posso dizer “abra sua mente, relaxe e goze”.
Nosso tempo é muito precioso para desperdiçar tentando atender padrões estéticos que não alcançaremos, refletindo uma hipocrisia da sociedade atual e reforçando padrões machistas de que mulheres são objetos de consumo. Não acho que as mulheres são tão livres assim, levará um tempo para libertar mais amarras da sociedade. Já alcançamos algumas conquistas, outras nem vemos no horizonte. Mesmo assim, pequenos atos como não raspar os pelos já é uma mudança em pleno século XXI, assim como não usar sutiã e ocupar postos de trabalho alto ao invés de ser confinada em casa por limitações sociais ou falta de escolha. Que continuemos levantando bandeiras e rompendo barreiras pelos pelos, pela vagina, pelos seios, pelo que é nosso e de mais ninguém: nós mesmas. Não vamos parar.