Bem-vindo, use nossas ferramentas de acessibilidade.
C C C C
A- A+
Diário Textual > ...Esquinas.

Cantinho da Macumba

21 de agosto de 2020
Cantinho da Macumba

Foto de uma garota de cabelos curtos e ruivos, com uma maquiagem gótica pesada. Está sentada próxima a uma janela, de um local que parece ser um cemitério.

 

Pokémon Go é um jogo eletrônico lançado em 2016, para celular. Desenvolvido pela Niantic, Inc., em parceria com outras empresas, usa o Google Maps para mostrar os Pokémons em tempo real, em locais reais. Sabendo disso, bom, foi assim que prestei atenção a certos locais de minha cidade, Goiânia. Eu morava perto de uma antiga e importante Igreja Católica (basicamente, fui criada nessa igreja) e também perto de um cemitério.

Era engraçado quando o jogo foi lançado. Às vezes, eu ia para a Igreja apenas para jogar Pokémon Go. Ficava horas lá, sentada, com o celular na mão. Depois assistia as missas ou assistia aos cursos. Acabei enjoando rapidamente de Pokémon GO, pois não queria ficar saindo de casa só pra jogar.

Com a quarentena em 2020, voltei a jogar Pokémon GO. E ainda antes de me mudar de bairro, ficava olhando onde os desejados Pokémons estavam, mas sem poder sair pra buscá-los. Quando alguns Pokémons estão em locais públicos, como parques e shoppings, mostra no mapa do jogo. Um dia, eu reparei que no cemitério existia um “Cantinho da Macumba”. Eu vi a foto desse cantinho no cemitério, pelo próprio jogo. Velas brancas, muitas flores brancas e lindas, algumas oferendas… Eu conhecia o cemitério, e não me lembrava de ter visto isso lá. Embora eu não precisasse ir lá há anos… Enfim. Não sei ao certo explicar o porque eu ri. É uma região cristã, com igrejas evangélicas e católicas.

Ainda por cima, eu tirei o famoso printscreen para mostrar para alguns amigos, e indaguei: “O que será que os intolerantes religiosos pensam desses cantinhos da macumba, se é que prestam atenção?”

Em minha época de escola, eu estava sempre vendo o preconceito e a intolerância religiosa. Eu fui um dos alvos disso. Claro que continuo observando esse preconceito, mas não sou mais alvo de bulliyng. O “engraçado” da intolerância religiosa é realmente perceber que vamos todos para o mesmo cemitério, independentemente da religião. E muitos estão mais preocupados com a religião alheia do que com a própria felicidade. Durante essa quarentena mesmo, estou vendo muitos tratarem a própria casa como uma prisão, e não como um lar. O auge da infelicidade.

Algo que também foi icônico pra mim, ainda na quarentena: uma amiga da faculdade publicar coisas relacionadas às religiões afro-descendentes em suas redes sociais e conhecer, no Facebook, uma pessoa da umbanda. Eu sempre curti conhecer sobre as diversas religiões do mundo. Entretanto, era estranho ouvir perguntas sobre a Umbanda enquanto eu mesma não sou da Umbanda. Eu tinha que explicar que “Macumba” não era algo maligno. No Wikipédia ou em dicionários, vejo a definição de Macumba como instrumento musical.

As pessoas vinham até mim, perguntar onde tem terreiros da Umbanda por Goiânia, e eu mesma indo para a Igreja Católica. E só agora eu mesma estou tendo o contato direto com pessoas dessas religiões. Agora, para mim, não é mais aquela coisa de “eu li na internet”.

Caroline Ishida Date

Sou arqueóloga e desde 2015 produzo de conteúdo digital voltado principalmente para o universo de fanfics e a cultura japonesa, uma das minhas suas paixões. No projeto Antes do Ponto Final escrevo sobre música e poesia brasileira, assuntos que gosto muito, sobre a cultura geek em Goiás e os artistas transformistas de Estado.

Baixe o e-book e saiba mais sobre.