Demorei tanto para me reencontrar em meio a minha própria bagunça, essa que fica depois que uma grande parte nossa vai embora, sabe?! Demorei tanto para me recolocar no caminho certo, naquele que me levaria de volta para os sonhos que um dia tive, que parecia que nada seria capaz de me fazer acreditar no amor de novo.
Não me entenda mal, era só medo de me bagunçar, de ter que catar meus cacos do chão, separar e reconhecer o que era verdadeiramente meu, e aí sim, me remontar e reencaixar sozinha, mais uma vez. Essas coisas deixam marcas na gente. De um jeito que qualquer um que se aproxima demais já faz soar um alarme interno de “corre, antes que te quebrem novamente”. É que leva tempo até que tudo volte pro lugar, mas a gente mesmo, nunca mais volta a ser o que era antes, depois de se quebrar.
Os meus cacos já cortaram muitos, que na tentativa de ajudar na minha reconstrução, saíram machucados. Não que eu precisasse dessa ajuda, mas há pessoas que aparecem para nos ensinar, justamente, que essa reconstrução, para ser bem feita, precisa ser um processo solitário. Se se aproximar demais, alguém corre riscos de sair ferido. Antes o outro, do que eu, que acabei de me quebrar inteira.
Depois disso, qualquer chegada se torna alarde, perigosa demais. A qualquer mínimo sinal de sentimento, envolvimento a vontade de correr surge e a gente inventa mil motivos para afastar a nossa frágil porcelana de todo e qualquer possibilidade de acidente desastrado.
Até que os estragos todos sejam refeitos e a gente se recomponha, pedacinho por pedacinho, e volte nova em folha e com um designe diferente. Foi aí que percebi, no exato momento em que senti que cada coisinha estava finalmente em seu lugar, que havia uma pecinha sobrando, mas já sem espaço para se encaixar.
Eu já estava completa, mas aquela pecinha ao lado, me fez questionar e analisar o que seria aquilo. Ela estava lá o tempo todo, em meio a pedaços meus em reconstrução, observando meus processos solitários, fazendo companhia a partes minhas que demoraram um pouco mais a assumir seu lugar, ela já me observava de perto, se camuflando, discretamente, para que eu não me assustasse com sua presença e não notasse que eu já estava pronta.
Conclusão: o amor aparece quando cada coisa já está em seu devido lugar, cada espaço preenchido de nós mesmos, quando não fizermos questão alguma de abrir espaço para ele. É que o amor é detalhe, é um adendo, um adereço que vem à parte, só para embelezar ainda mais a porcelana. A gente pode muito bem viver sem ele, mas fica muito mais bonito com ele como enfeite do lado. Foi aí que o aceitei, como decoração e não como complemento meu. Assim, se ele se perder ou se for não me quebrarei mais. Naquele momento, deixei de temê-lo.