Foto do espetáculo "O Príncipe", da Indelicada Cia. Teatral. Na foto o personagem que o Evandro Costa interpreta.
Era uma vez um rei muito indelicado, mas ao mesmo tempo querido e lembrado por todos. O engraçado é que ele não queria ser rei, queria ser qualquer outro personagem, mas este papel sempre lhe servia bem. “Caia como uma luva”, diziam, era como se o misto de alegria e tristeza, de infância e maturidade, do velho pro novo estivessem com ele. Além disso, segredos bem guardados que um sorriso sincero jamais revelariam. Ifá que o diga, sempre revelando para seu fiel escudeiro os segredos do oráculo e do futuro.
Como um deus do Teatro, sempre perambulando entre castelos reais e imaginários, e também entre o povo de rua, e de gueto, e de África, e de nativos, e de estrangeiros. Esse rei gosta de contar histórias do passado, presente e futuro – e um futuro por vezes fictício. Um tom irônico e de deboche, às vezes, uma sutileza de irmão cuidadoso, uma expertise que só os deuses da comunicação e da sapiência têm.
Seria o teatro necessário? Ele continua a perguntar, mesmo sabendo as infinitas respostas. Necessário seria o teatro? Para sair do inferno, sim. Talvez seja a chave que Hades precisa para deixar alguém entrar no submundo e resgatar o que há de bom e ficou perdido por lá, por engano ou desleixo. Com balangandãs presos às fantasias, feito Carmem, esse rei fala de quase tudo e revela o que precisamos saber sobre a arte: sem ela a vida não tem graça.
Para Evandro Costa.