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A morte me cumprimentou

5 de setembro de 2020
A morte me cumprimentou

Era Início da noite, eu passava na portaria do meu prédio quando, de relance, eu vi um homem sombreado pelas árvores da rua. Ele me cumprimentou, mas demore reconhecê-lo. Seu Francisco, um antigo porteiro do meu prédio. Pareceu um pouco abatido pra mim, talvez fosse pelo tempo que eu não o via, poderia ser a saúde que não andava tão boa. Verdade é que envelhecer, bem ou não, sempre deixa algum rastro.

E logo ele foi embora, com um olhar meio triste. Acho que foi uma das últimas vezes que o vi. Tempos depois seu filho morreu de um jeito trágico, abalou muita gente que conhecia ele e a família. Francisco trabalhou mais de 20 anos como porteiro do meu prédio, e descobri que no dia de folga também era porteiro no prédio de um conhecido.

Ele sempre teve um cumprimento familiar, como se fosse alguém que conhecesse bem a família. E ele conhecia, ajudou minha mãe quando ela chegava no prédio com  meu irmão que estava meio doente, e minha tia também tinha boas lembranças dele. Tinha lá algumas histórias que a gente ouvia, mas quem não tem? Ninguém é perfeito.

Sei que ele é mais um cearense que veio ganhar a vida aqui em Goiânia, e sempre conversávamos sobre algumas coisas do Nordeste, como a comida. A morte ainda não cumprimentou o seu Francisco, eu acho que ele ainda vai viver muito. Aquele dia, na portaria do meu prédio, foi só um aviso de que ela sempre aparece, uma hora ou outra.

Kalyne Menezes

Sou fundadora, diretora e coordenadora geral do Antes do Ponto Final. Jornalista, escritora e pesquisadora. Gosto de escrever, falo no podcast e apareço no vídeo para contar histórias de pessoas e lugares, de diferentes maneiras. Também gosto de ir atrás das relações entre Comunicação, Informação, Cultura, Cidadania e pessoas com foco no que é social e coletivo.

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