Se pensarmos bem veremos que a vida é uma narrativa de fôlego. Há quem diz que a gente já nasce chorando porque o mundo não é lá tão bom como dizem ser. Eu penso que choramos ao nascer porque queremos respirar esse ar, começar os primeiros movimentos de uma vida que, consciente ou não, escolhemos viver. “Deus é cineasta, nós somos roteiristas”, tenho uma grande amiga que diz isso vez ou outra, e concordo que esse grande filme que vivemos é fragmentado, feito de inúmeras cenas, mas nem por isso menos intenso e complexo.
Vivemos uma sequência de vidas dentro de uma só, a começar de quando estamos sendo geridos dentro da barriga da nossa mãe. Lá dentro já sentimos algumas coisas desse mundo e percebemos que há muito o que conhecer e experimentar fora dali. E choramos não porque sentimos medo de sair de dentro de um lugar confortável, seguro e quentinho – que é a nossa mãe -, mas porque queremos anunciar ao mundo que chegamos para viver este filme chamado Vida, e interpretar uma personagem real, que vai descobrindo, passo a passo, seu lugar e sua missão no planeta-escola chamado Terra.
E daquele primeiro choro até a nossa última respiração seguimos parte do roteiro prévio desse filme, porque às vezes nos esquecemos dele e fazemos improvisos, assim como no teatro, onde o ator sobe no palco com o texto na cabeça, e interpreta, estuda, dá o seu melhor, mas, na hora “h”, alguma coisa sai do roteiro inicial e ele continua a peça, muda uma fala ou outra, usa as técnicas e sua expertise para o show continuar. As artes são cheias disso, e a vida também é uma arte.
No nosso roteiro fazemos adequações, tem vezes que nos deixamos levar pela ideia de outros, mudamos de opinião. Cometemos erros, muitos erros. E muitos acertos também. O mais bacana desse roteiro que é flexível é que nós podemos, o tempo todo, escrever uma nova história dentro da nossa história. E isso nos dá, em certa medida, um poder neste mundo, é como se fôssemos uma extensão do “cineasta” disso tudo. É aquela sensação que as mães têm de, depois que os filhos crescem, sentirem que uma parte delas anda por conta e ideias próprias e elas observam, de longe, sabendo que apesar de uma certa aflição maternal, eles foram bem instruídos e tendem a fazer boas escolhas.
Viver e contar histórias é a vida em si. O que é um amor, em suas mais variadas formas, senão uma boa história a ser compartilhada? A superação de uma doença, a tristeza de dar um “até logo” a alguém que partiu cedo. Entre alegrias, comédias, dramas e até terror nós vivemos, os mais variados tipos de roteiros, começos e recomeços, cabem nessa longuíssima-metragem. Há muita história para se contar Antes do Ponto Final.