“Nós só sorrimos nas fotos, essa tal de selfie, não tem mais foto espontânea”. Ouvi de um professor meio hippie tempos atrás que me pegou de conversa num evento. A tese dele é de que com o avanço das redes sociais as pessoas ficaram superficiais em alguns aspectos, a exemplo das fotos. Agora, disse ele, todo mundo só sorri e faz mil poses para ficar bem na foto. Mas, ora, a vida não é feita só de alegrias, há de ter fotos mais “reais”, ele enfatizava na conversa.
E aí, eu me pergunto: “o que é o real?”. Se a gente for pelo campo da Filosofia e de outras áreas é provável que não tenhamos resposta. O que é verdade depende de cada um, como a gente vê e se relaciona com o mundo. Uma foto certamente não traduz a realidade, mas é um tanto nostálgico e saudosista acreditar que uma foto antiga, daquelas reveladas em máquinas de filme fotográfico que corriam risco de serem queimadas ao abrir a câmera, também seja real. Acho que o que mudou de lá para cá, além da tecnologia, foi também o nosso olhar sobre o mundo.
Nas pinturas, quando estudamos um pouco de História da Arte, também é possível ver isso. O modo de pintar e representar muda porque o olhar também muda. E quando veio a fotografia e o cinema imagino que as críticas à nova forma de ver o mundo também tiveram um grande peso. Quanto ao celular e às novas tecnologias, bom, enquadrado ou não, eu prefiro um sorriso sincero a um forçado. Mas também vejo que, assim como as artes de uma forma geral, tristeza, raiva, ódio e outros sentimentos podem ser profundamente tocantes. No quesito pessoal, já tem muita gente por aí querendo tirar nossos sorrisos dos lábios. Então, vamos sorrir hoje? Pode ser de qualquer jeito.
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