Me peguei pensando sobre os livros que não li. Que histórias eles teriam para me contar?
Geralmente escrevemos sobre os livros que lemos e que nos tocaram de alguma forma, sejam literários ou técnicos. Mas, neste caso, me pergunto a razão de não ter lido algumas obras e, mais ainda, de ainda tê-las na minha estante. Não é que eu não tenha tido vontade de ler, mas acho que, como muitas situações na vida da gente, eu perdi o timing.
Muitas histórias eu comecei a ler, mas me desmotivei e larguei mão na esperança de voltar. Já outras, sequer abri. Esses dias um amigo me mandou um vídeo com parte de entrevista de João Ubaldo Ribeiro, em que ele diz mais ou menos que cada livro na estante cumpre uma função. Às vezes, o papel daquele livro era ocupar um lugar na estante, me fazer estremecer pela capa ou ter uma função lúdica na minha vida. E tudo bem por isso, não preciso me forçar a cumprir determinadas regras.
Antes eu achava que era obrigada a ler, esmiuçar. Mas tem tantos livros que a gente abre mais de uma vez, outros que lemos picados, e os que não lemos mas temos um certo apego. É como algumas coisas na vida da gente, cumpre um papel caloroso e acolhedor. Eu sempre acho que um livro é um objeto de desejo, consumo, satisfação pessoal (para além do conhecimento e imaginação).
Aos livros que não li: obrigada por estarem aí, me ajudando a compreender que o mundo é vasto e que não preciso ler tudo loucamente. Não preciso tornar a leitura um fardo obrigatório, posso só olhar vocês de vez em quando e me sentir acolhida. Posso ler apenas poucas páginas que me interessam. Posso doar vocês, abrindo espaço para novas histórias e memórias. Posso perceber por meio da trajetória de cada um de vocês na minha vida a minha própria história e, apenas por isso, valeu a pena tê-los na minha estante.