Qual é a sua lembrança mais querida? Qual é o seu medo guardado pra ninguém saber? Onde eles estão guardados.
Juca Mole e Ana Banana têm muitas caixas e em cada uma há um segredo que ao ser revelado suscita delicadas emoções e convida ao brinquedo. Suas coleções serão abertas e compartilhadas com você.
Ao final, numa grande viagem, eles descobrem que nem todos os segredos podem ser compartilhados. “Há coisas que são muito queridas e que não devem ser divididas” e que fazem parte de uma coleção muito particular: de Segredos.

Concepção do espetáculo Segredos
Segredos foi criado a partir do desejo dos atores Alexandre Augusto e Ana Cristina Evangelista de mergulharem nas pessoas dos palhaços Juca Mole e Ana Banana. A dupla de palhaços já era resultado da pesquisa dos dois atores no Teatro de Máscara, que contou com os ensinamentos de técnicas pré expressivas de mestres como Lume Teatro, Tiche Vianna, Ésio Magalhães, Pepe Nunes, Sue Morrison e Chaccovacci. Até então a dupla Juca Mole e Ana Banana atendia à construção clássica de Branco e Augusto. Os atores tinham domínio técnico, mas necessitavam ir além. Segredos abriu a possibilidade de um aprofundamento na humanidade desses dois palhaços, que resultou no amadurecimento da pesquisa e da relação deles com o público.
A princípio nós, atores, partimos das indagações: quem são Juca Mole e Ana Banana verdadeiramente? Qual é a história de vida desses palhaços? O que os move? Afinal de contas o palhaço é a essência das pessoas dos atores e estes vão com suas máscaras mínimas ao encontro com o público. Como dar ao público o conhecer essas duas pessoas? Pensamos então em compartilhar os segredos de Juca Mole e Ana Banana.
Como compartilhar segredos? Quais são eles?
É necessário, antes de mais nada, de uma atmosfera de intimidade. Pensamos então que Juca Mole e Ana Banana receberiam o público em sua casa, revelariam a sua rotina cotidiana e compartilhariam sua coleção de lembranças e seus sentimentos. Para tanto nós, atores, iniciamos então a nossa emocionante busca por nossos próprios conteúdos pra construirmos esse lugar. Começamos por nossas lembranças de infância: fotos, acontecimentos especiais, brincadeiras preferidas, objetos de estimação, lugares e cheiros. Vasculhamos nossa subjetividade em diálogos de sala de ensaio e levantamos nossas dúvidas, medos, desejos, e coragens de adultos. Percebemos um conteúdo universal que se comunicaria com todas as idades. Então partimos para a construção da dramaturgia.

Nos propusemos um processo de dramaturgia “Kamikaze” . Elaboramos um Canovaccio/Roteiro, que não se configurou enquanto um texto fechado, mas sim, um detonador de experiências com o público, que nos ajudaria, por meio do jogo, a construir a dramaturgia final. Esse Canovaccio trazia ações físicas cotidianas dos palhaços em sua casa, que incluíam a organização de coleções. As coleções variavam desde fotos, brinquedos, objetos pessoais até elementos sinestésicos e de ordem subjetiva. Seguros nessas atividades rotineiras e no cumprimento de normas de organização, o conflito se instala quando as lembranças de Juca Mole e Ana Banana motivam um desejo de subversão dessa ordem estabelecida por padrões sociais absorvidos ao longo do processo de perda da infância. Os dois decidem, então, superar os medos e transformar a casa em um barco para se entregarem a uma viagem sem destino certo em busca de um resgate do que fora perdido.
Esse roteiro foi colocado em prática em uma temporada de ensaios abertos ao público, que chamamos de pré estreia. Experimentamos diversas possibilidades e no jogo com o público fomos aos poucos selecionando o que percebíamos que fazia sentido. Essa foi a última etapa do processo de montagem do espetáculo.
Onde os segredos de Juca Mole e Ana Banana estão guardados?
Em caixas.
A partir disso sabíamos da casa, das caixas e precisávamos de uma estética. Convidamos Edith Lotufo, designer, artista plástica e grande amiga, para fazer parte do projeto como cenógrafa. Edith agregou um enorme valor conceitual ao espetáculo, trazendo a sua pesquisa de reaproveitamento e reciclagem de papel para a concepção do cenário. Num momento mundial em que é urgente que reeduquemos a nossa relação com os bens de consumo, que critiquemos o desperdício, Edith nos abriu pra novos significados e nos proporcionou a oportunidade de descobertas de jogos com os objetos criados a partir do papel craft e do papelão.
O lúdico foi a tônica da elaboração de uma casa, em duas estruturas que são manipuladas como brinquedo e se transformam surpreendentemente em um barco. Os segredos são guardados em caixas. Em contraposição ao computador, ao pendrive, ao HD, queríamos resgatar a relação afetiva com o conteúdo da memória. Os palhaços abrem caixas adornadas com motivos infantis coloridos, que os transporta para um passado que se transforma em presente – aqui e agora – na relação entre os dois e deles com a plateia. De dentro das caixas eles tiram elementos sinestésicos, táteis, brinquedos e fotos, que são projetadas, com cenas da infância dos palhaços, que são compartilhados com a plateia em momentos de interatividade.

Para envolver esses objetos em uma atmosfera de leveza e aconchego, o espaço cênico é vestido por tecidos claros que acolhem a projeção de slides e uma iluminação calorosa e colorida, que dá o tom intimista e receptivo do interior da casa dos palhaços.
Para a trilha sonora, buscamos músicas com o som do acordeom. Esse instrumento nos lembrava de palhaço e nos parecia lírico. Queríamos momentos com certa dose de melodrama no espetáculo, que nos ajudasse a conduzir as emoções do público de forma poética. Com esse instinto buscamos a presença de músicas de Ênio Moricone e Nino Rota na trilha do espetáculo.
Texto: Divulgação | Fotos: Layza Vasconcelos.
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