Todos os dias, quando saio do meu prédio, encontro o casal 80 no elevador. Eles andam pela manhã, ele de bermuda e tênis, ela de bermuda e chinela estilo confort. O casal tem tanta intimidade que não precisam segurar a mão um do outro. Tantos anos juntos, sem dúvida, os fizeram compreender a palavra no olhar ou intuitivamente, apenas pelo pensamento.
Com frequência os vejo no elevador ou entrando no prédio. Às vezes passam no supermercado, mas fazer tudo a pé mesmo. Nunca os vi tristes. A senhora muito gentil carrega todos os dias um sorriso no rosto e nas mãos a leveza de uma vida dura, mas feliz. O senhor tem uma boina que adora, suas sobrancelhas são brancas e espessas e ele, sem dúvida, é um bom contador de histórias.
O casal 80 (bom, eu acredito que eles tenham entre 79 e 82 anos) tem energia e disposição. Esses dias no meu prédio os dois elevadores estavam quebrados e eles, sem problema algum, subiram as escadas até o 13º andar. Como disse a síndica, a disposição e energia deles nem causou preocupação. Eles subiram e desceram as escadas três dias seguidos.
Eu admiro esse casal. Só os conheço do elevador, não sei como se chamam, se têm filhos, netos, bisnetos. Provavelmente sim, e muitos. Tenho a impressão de que com o tempo passaram a ver melhor o verde das árvores e a sentir o sabor das frutas. Eles não vivem essa agonia que muitas vezes nós vivemos diante da vida. Para eles há felicidade mesmo na tristeza que eventualmente possam sentir. Não há aflição nem nos olhos cor de mel da senhora, nem nos olhos pretos desse senhor. Em seus olhares só se pode ver duas coisas: amor e paz.
Foto: Candida.Performa/Flickr.
Texto escrito em 2014.